segunda-feira, 14 de maio de 2018

100%

Talvez eu esteja começando a detestar o fato de ser insubordinada.
Não é raro as vezes que não faço o que mandam. Nem que mudo o que deveria ser feito. Ou que não faço se não tenho vontade. Parece um mimo bobo, um jeito de ser, mas não, descobri que tem raízes mais profundas do que isso.
"É mais forte do que eu", "eu até que gostaria". Às vezes repito frases comuns na minha cabeça para determinar "é assim que eles dizem, é assim que tem que ser feito/pensado." E me pego em uma gastura tremenda de pensar que simplesmente não estou nem aí, ao que deveria, ao que seria, ao que é certo.
Pareceria ainda 100% mas estranho se eu exemplificasse isso com acontecimentos. Acho melhor não.
Mas eu descobri também que não é uma frustração só minha (Eu tenho até amigos que são). Tentar se espremer para caber, se encaixar em algo para andar junto e por aí vai. São tantos padrões e tantas regras que definitivamente eu não sei como 'quase' todo mundo consegue.
Talvez muito talvez eu já tenha chegado em um extremismo radical. Já não quero mais caber. Já não quero encolher. Já não vou nem explicar para quem não vai entender. Talvez as decisões mais sábias (e lógicas) sejam aquelas 100% radicais.
Eu poderia ter aguentado o peso de pertencer a algo que não é meu, que não sou eu? Ninguém consegue. Todos os "poderiam" ou "deveriam" deveriam ser abolidos. E começando desde já, poderiam e deveriam já estão abolidos.
Não estou nem aí para etiquetas sociais, datas comemorativas, horários, notas acadêmicas, prazos de entrega, provas de todo tipo, trabalhos não criativos, não flexíveis. Tudo que, de alguma forma, foi imposto pelo outro. E eu não vejo por quê exatamente eu deveria cumprir/seguir.
Eu demorei para entender que trata-se também de rejeição e fuga.
O "eu nunca me enquadrei" no  que tivesse para ser enquadrado também é 100% real desde a minha infância.
E dá uma certa aflição ao pensar algo como "mas eu queria ser normal" "por que é que eu ajo assim?". 
É uma configuração da mente, eu suponho. Algo que talvez não me faça 100% entregue ao momento presente e que me dê sempre uma sensação de insatisfação com a realidade. E talvez fazer diferente para mudar seja pra mim fazer ao contrário do que o senso comum faria.
Eu não acredito que seja capricho da minha parte. Talvez eu não queira cumprir com mais nenhum papel porque o peso das imposições sociais já foram pra lá de muitas.
Sinto várias marteladas da vida na minha cabeça toda vez que sou insubordinada. Mas, estranhamente, e de modo super masoquista, eu sigo sendo. 100%.
 
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