E tudo o que o nosso grande garoto queria era aquela pequena estrela que brilhava infinda nos céus de Maio. Poderia querer os anéis de Júpiter, as cráteras de Marte, os satélites da Lua. Mas não. Tudo o que ele queria era aquela pequena estrela.
E por isso desde sempre levava consigo seu telescópio. Estudar os astros, observava as suas posições de período em período, todas as estrelas. Ele já tinha conhecimento pleno de todas as estrelas. De onde poderia vê-las melhor, analisar suas peculiaridades, quais noites mais estreladas...
Ele apreciava noites estreladas. Tinha noites em que ia ao parque sentava na grama, preparava o seu telescópio... Ah! Que noites lindas eram aquelas em que se podia contemplar as estrelas! Como ele amava o brilho intenso das estrelas.
Porém tinha uma pequena estrela, na qual avistou um dia de relance e que aparecia raramente, de um brilho diminuto e desgracioso, de uma luz fraca e distante. Quão misteriosa e singular era aquela pequena estrela. Procurara nos livros consultar a sua posição no céu, saber de onde provinha, há quantos anos luz estava de distância... E qual era o seu nome? Qual era o seu nome? Não soubera dizer. E ocupando-se com isso o brilho de sua pequena estrela se apagou.
Intrigou-se. Desde então era o seu prazer mais puro, a sua vontade mais extrema ir atrás de sua pequena estrela. Encontrá-la. Encontrá-la.
Quantas vezes não a procurou sem êxito? Noites inteiras não dormidas esperando aquela aparição de brilho fosco. E outras em que as estrelas pareciam terem conspirado contra ele fazendo com que a noite fosse clara e vazia.
O que tanto a pequena estrela lhe chamava atenção nem sabia dizer ao certo. Não era uma estrela como as outras tampouco a sua aparição merecia destaque... Queria entender o por quê daquele brilho vago, triste, do seu aparecimento repentino, do seu piscar em noite escura quase sussurrante. E não era tão lindo?
E sempre fora assim tão apaixonado pela pequena estrela, queria pegá-la em um momento desprevinada, parecia que se ocultava quando ele lançava-se ansioso sobre o telescópio.
Ah, o telescópio. Era mais do que apenas um instrumento. Podia com ele alcançar os céus. Lá, muito além das noites escuras e sombrias. Da escuridão absoluta sempre que aproximava os olhos poderia ver a beleza extrema que quisesse. Se cada noite quisesse escolher uma estrela diferente, ali estariam todas e poderia admirá-las o tempo que lhe aprouvesse.
Mas não. Ele só queria ver o brilho da sua pequena estrela. Nem seja só mais dessa vez.
Mas estrelas em si nada mais eram que ideias ilusórias de algo que não estava mais ali. Talvez um pequeno ponto luminoso que simbolize algo que já morreu. Porém ele se demorava no contemplar do brilho, sabia mesmo que era fantasioso e que sei alcance era remoto... Mas que prazer tinha em contemplar o brilho daquela estrela...
Era aquela a sua estrela apesar de tudo. Aquela em que "pegara para si", não importava o quanto tempo a roubasse dele. Quantos anos luz de distância, quantas 12 h de separação de noite à noite... Não importava. No fundo, ele sabia que ela era dele.
Parece que quanto maior a distância, maior a impossibilidade de vê-la há todo instante maior era a atração que ela exercia sobre ele.
De dia sem tal presença convidativa ainda que ela permancesse lá, sem que seus olhos a vissem, afinal lhe dava um ódio era do telescópio! Como poderia tal coisa aproximá-l de algo tão distante, tão desesperançoso? E que hábito tomara de andar sempre com seu telescópio!
Já era parte dele. Era ele, o grande garoto e seu telescópio. Porque no final das contas o seu amor mesmo era ao telescópio, o que afinal lhe permitia as noites estreladas? Não importando quais estrelas, o telescópio era o seu refúgio, a sua dose de alegria, a sua diversão diária, era o seu consolo.
E fora assim. Brincando que descobrira a sua pequena estrela. É com dor que ele a observa neste momento. Mas só por causa disso ele não vai perder o hábito de usar o seu telescópio nas noites estreladas mais atraentes, tampouco sairá correndo em noites "desnudas" na possibilidade de encontrar o seu par solitário, o brilho sumido da sua pequena estrela.
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