Péricles estava todo feliz com o submarino que ganhara de presente. Fora o seu primeiro e único pedido durante todo os seus sete anos de vida.
Era verde. O submarino. Péricles sonhara e pedira tanto um submarino amarelo.
-Que ideia estapafúrdia, menino! Amarelo!
-Sim, amarelo.
-Tudo bem.
E assim foi. Péricles andava todo feliz com o novo presente, não o largava por nenhum um só minuto.
-Aonde você vai com isso menino?
-Submarino precisa de mar. Eu estou indo brincar de mergulho. Eu quero saber das coisas que podemos ver no fundo do mar.
-E como você vai saber o que são as coisas?
-O submarino é amarelo, tio.
E isso lhe bastava. Elepoderia desvendar os mistérios do fundo do mar e aventurar-se com coisas que nunca viu. Tudo isso só seria possível se o submarino fosse amarelo. Certa vez ouviu uma história. De um garoto que tinha um submarino amarelo e onde ele estava com o submarino e fizesse um pedido, esse pedido se tornava realidade. O menino pedira tantas coisas! Coisas que também queria conhecer, que queria saber, que queria ver...
Mas quem lhe contou a história ressaltou:
-Toda a mágica do submarino não se recorria ao fato de que era um submarino, mas porque era justamente amarelo. A magia estava na cor. Na cor. Porque era a primeira cor que se via quando se olhava. Porque o misticismo surgia a partir da cor. Porque a luz quando incidia sobre o objeto... A imagem era no que se cria! A imagem... transcendia!
Péricles lembrou que não entendeu mais nada depois do "misticismo", mas que, ouvindo, achou muito bonito. Deveria ser tão lindo, a luz. E era por isso que queria tanto o submarino amarelo. Agora tinha.
Saiu correndo para fazer seus pedidos mais secretos... querita tanto saber como era uma baleia... se sua pele era de veludo salmon... se era grande mesmo a ponto de não conseguir estirar os braços e abraçar seu comprimento. Queria saber das estrelas do mar e como éram as conchinhas na beira da praia...A praia! Tudo seria possível com o seu submarino amarelo.
Não entendia como a areia podia rodear o mar e segurálo se era tão fina e minúscula? E como seria o vento se a luz incidisse sobre ele? Ele queria ver esse tal do misticismo, o cara de nome engraçado. E para isso, o submarino era amarelo!
-Aonde você vai com isso, verde, aí?
-Eu?
-É.
-Pode re-repetir a cor, por favor?
-Verde. Por quê? O que é ?
- Verde?...
Péricles saiu em disparada. Não continha nas suas passadas largas toda a dor que queria deixar para trás. Era por isso que não conseguia. Era por isso que a incrível história não se daria com ele. Péricles chegava até a engasgar-se com as lágrimas.
Naquilo que ele acreditou tanto que seus sonhos se realizariam! Não queria acostumar-se. Prometeu a si mesmo que não se acostumaria. Ele ainda saberia das coisas que queria saber. Do misticismo. da luz. Em como ela incidia sobre o submarino... ele ainda veria a primeira cor que se via quando se olhava. E quando visse, saberia que era ela.
Como queria um submarino amarelo! Como quisera fazer os pedidos que o menino fez. Como quisera ser o menino daquela história.
Se tivesse um submarino amarelo ele faria o pedido que ensaiava em não fazer. E assim ele não pediria mais nada para ninguém. Com esse pedido, ninguém mais o enganaria. Ele só queria ver. Ele só queria ver.
Ele tinha um pedido melhor do que aquele menino da história. Ele só queria ver. Ver como a luz incidia sobre o submarino. Como era o submarino? Ele queria ver a luz. Ver a luz. E o como o senhor misticismo usava as cores. Só precisava ser amarelo. Só. Só.
Com seus sonhos despedaçados e esperanças desfeitas, Péricles adormeceu. Banhado de lágrimas e agarrado com o seu submarino verde. Péricles era cego. E mal sabia ele que vivia cercado de mais misticismo do qualquer outra pessoa que tinha a luz por comum. E que a sua história era mais incrível do que aquela história do submarino amarelo.
0 comentários:
Postar um comentário
Comenta ae: