segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Aponte-me pela rua...

Os escritores têm características particulares. "Aponte-me um escritor pela rua". Ora, simples. Muito fácil.


Por si só são exagerados. Eles adoram essa coisa chamada "ênfase". Adoram engolí-la e mastigá-la pouco a pouco as partes mais expessas, saborear demoradamente, achando um trabalho super árduo comer, comer e comer desesperadamente, incansavelmente em busca do clímax perfeito. (hmm. duplo sentido...) E tudo isso só para dizer que enfatizam BEM.

E como presente exemplo, ênfase na dor: "Então ela se foi. O que me dissera antes quando ainda estava aqui? Ela, tão ser único na minha vida, tão envolvente, tão sóbria, tão minha. Ela se foi sem motivo, eu não posso aceitar o seu motivo. Não posso. Que o cachorro fazia sujeira demais na porta da sala. Sem motivo. Não tenho mais vida, mais esperança. Ontem mesmo me afoguei em lágrimas, tropeçei em bebidas alcoólicas. Martirizei-me comendo rúculas. Dias imensos de insônia. Implorei, roguei aos céus. E não obtive respostas. Bebi até que olhos já não vissem o fundo do copo (e para isso também eu o enchia constantemente) e não houve uma gota em que coloquei na boca que não me lembrasse dela. Não, nada. Mas adormeci e esqueci. Pelo menos eu sei que ela não vai levar o meu cachorro."

Então quando alguém chega em você e diz: "a massa óssea do meu corpo não permitiu que eu me esquecesse um só segundo de te dizer obrigada do fundo do meu coração pela presença que você colocou para mim na aula da semana passada". Veja, é alguém com proeminência à literatura.

Qualquer pessoa que te assuste com assuntos esquisitos, uma diferença nos modos, na utilização de expressões incomuns ou que você nunca consiga realmente entender o que a pessoa estava querendo dizer com aquilo, acredite eles podem ser escritores. Tudo bem, podem ser apenas loucos. Eles chegam com os papos "hoje eu conversei com os meus hematomas. O Godofredo e o Silveriano". Fuja deles.

Eles preservam a excentricidade como atração de sua classe e geralmente acham que essa é a única forma de chamarem atenção ou serem diferentes. "Hoje eu masquei chiclete tomando café, adorei"; "Pulei de asa delta com patins, quando cheguei ao chão ainda consegui andar em plena avenida"; "Pintei o meu cabelo de duas cores, azul e verde, uma representando a Mata Atlântica e a outra a secura total do Planeta se não fizermos nada e ..."

Já na contradição são adeptos da inconstância. "Gosto de alface. Desde que não tenha agrotóxico. Estes estão com gosto esquisito. Agrotóxicos. Não gosto de alface, nunca gostei. Quem disse que eu gostava de alface?? Vocês colocaram isso na minha cabeça, essa repressão social..."

Uma grande parcela dos escritores está na parte dos incompreendidos, rejeitados e traumatizados pela sociedade. Aqueles que não obteem o que querem dela e se frustram pela preferência de privilegiados. Junte a isso uma introspecção, uma timidez ou totalmente o reverso disso, uma rebeldia e inflamação.

Nos dois casos (e eu acho que em todos os outros) os conflitos internos e externos promovem essa necessidade de inclusão em um caso ou de fuga no outro. Uma necessidade de se sentir "normal" em meio a um caos interior. Uma necessidade de liberdade e de poder de si mesmo que os leva a se apossar de suas próprias palavras. Coisas que nem todos fazem. Nem todos fazem.

Exemplificando, os escritores tímidos são aqueles que andam cabisbaixos pela rua. Ou que olham para lugar nenhum e parecem nas nuvens. São aqueles que não te olham nos olhos quando falam com você. E tentam te fazer acreditar que eles não existem, que são inúteis. Há uma necessidade de negação. "Não, não foi eu quem escreveu"; "Isso não merece elogios"; "Não precisa se preocupar comigo apesar de um gordo não ter me visto e me dado um soco de direita em cheio no meu nariz"; "Graziele? Quem é Graziele? " (eu já ouvi muito).

Outros teem um senso de humor peculiar que poucos entendem e menos ainda são os que se arriscam a rir das complexas piadas. Daí, esses se passam por bobões ambulantes. Porque ninguém entendeu o gênio que existe dentro deles.

Somos seres no mundo que não existem. Ninguém acredita que existimos. Há algo que não se completa entre nós e as palavras. Não, realmente não somos nós. São elas. Elas são puras, são únicas, não nos pertencem.

Todo escritor adora a doideira de falar sobre o que escreve, sobre a inspiração, sobre o que são as palavras e o que são eles com relação a elas, adoram, adoram a metalinguaguem. Um escritor que não crie seu universo e não fale sobre sua própria língua, não existe. É como vender cachorro quente e não saber fazer a salsicha. Na verdade nós começamos fazendo a salsicha, e só depois de um bom tempo de aprendizado e prática é que partimos para vender o cachorro quente. Feito na hora, é mais gostoso.

E por último, os escritores críticos têm tendência a prepotência, acham que os seus textos são sempre melhores que os dos outros mesmo lendo, dando crédito e admirando, porém eles pensam consigo: "Posso fazer melhor" (e quais não são assim?)...


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