sábado, 6 de fevereiro de 2010

O fantasma da censura




De contínuo habita na escuridão um ser insondável que traz em si o fantasma da nossa própria censura. Ele vem com correntes, preso à bolas de ferro e cercado de grades.

E lá vai ele às escuras tateando um lugar frio e sombrio. Perto dele há morcegos, poeira e teias de aranha. Na sua intensa peregrinação flagelada de apenas dois metros quadrados se resume a sua vasta liberdade prisional.

Não há o que querer naquele que traz o nosso querer mais intenso. E não tem no que pensar senão no nosso querer mais intenso.

Manchado de preto. Coberto de preto. Cintila os seu grandes olhos pretos. Cheios de uma dor latente e inexpressível. Como poderia gritar por entre quatro parede ocas o que já o sabem sem gritar?

Era ele o negasto, o cruel, o amargo. E por isso mesmo o amarrado. Não se deixaria ele partir por aí sem controle, ele não sabe, porém pode mais que todos os outros. Os outros.

Ele têm o poder da Phoenix, que controla tudo. Que manipula a razão de todos os outros para manifestar o seu querer. O querer mais intenso.

Porém, ele tropeça fraco entre ratazanas. Uma ratazana corre rápida quando sente uma gota gelada escorrer nas costas. E muitos outras continuam caindo como se chovesse. Mas não chove.

Ele ouve gritos horrendos e uivantes por entre as grades e desespera-se quando pisa em cacos de vidro. A bola de ferro presa ao pé o cansa. E nada o que lhe fizesse extenuaria a dor.

Tem junto a ele um fantasma que lhe fala ao pé do ouvido: "Nem tente. Nem tente." Esse fantasma o trancafiou. Mas ele é o guardião. Sabe que tem que proteger o querer mais intenso desse fantasma ensurdecedor. E ninguém sabe mas, a sua missão é essa. Não deixar morrer nas mãos da censura o nosso querer mais intenso.

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