Eu gosto de escrever porque àqueles que escrevem é concedido tudo. À eles são concedidos reger o destino de suas palavras. Com essas palavras eles podem ser tudo: ter o que almejam, as realizações dos seus sonhos, o sentido, a eficácia e a alegria em suas vidas narradas.
Só é nas palavras que não temos limitações nem barreiras. Não há preconceitos nem obstáculos que permaneçam intransponíveis. É somente nas palavras que encontramos a total recompensa por todos os nossos atos, sejam eles maus ou bons. Ainda podemos tirar deles máximas filosóficas desses atos acentuar as virtudes e ocultar os defeitos... Sermos o mais charmoso e venerado dos personagens que tivermos em mente.
Ninguém nos negará a virtude, a honra nem as nossas mais íntimas qualidades quando apresentarmos aos nossos leitores a verdade de que não temos nem sequer uma gota de beleza exterior. Para o leitor, nem àquele que escrevem, importará ao certo se somos feios e merecemos piedade.
Só a palavra é capaz de abrandar a fúria dos nossos corações impiedosos e estabelecer uma estranha e complexa relação de carinho e afeto com aqueles que não são reais. Temos uma humanidade sem tamanho estabelecida para o não-real e uma desumanidade sem tamanho estabelecida no nosso dia-a-dia.
Eu amo a palavra porque expõe do ser humano só o que é certo, o que é correto expor e não é maculada nem persuadida como a visão, a imagem ou a linguagem visual que pouco nos mostra além daquilo em que conseguimos ver (e se não tivermos a inteligência necessária, de extrema perspicácia...). Tudo isso é falsa imagem.
Eu posso ser quem eu realmente sou quando escrevo e não tenho medo nem vergonha porisso. Posso sim demonstrar toda a minha fraqueza e com a minha sinceridade os meus defeitos, mas sei que represento talvez o que é mais certo sem retoque de maquiagem e nem contrariedades entre o que escrevo e o que sou. Antes, é alívio me confessar assim e se não fosse sempre com tal intenção (de confissão) eu não teria motivo algum para escrever.
Eu diria que só a palavra me entende. Sem indiscrições ou rodeios. Sem críticas, culpa, lamentos nem conselhos. Que me deixa indagar sozinha e segui-la no livre curso da minha mente. Só o que não me cansa e nunca me desgasta é escrever. E às vezes confessar todo esse amor pela escrita é para mim algo totalmente necessário (como um pensamento de:" Eu não sou louca" ) para que eu tenha um estímulo e continue, mesmo sem retorno, escrevendo.
Tem dias em que tudo me perturba que me leva à um estranho e inexplicável conflito interior - algo sem motivo nem fundamento - que deságua, ou melhor, que me faz desabafar na escrita. É consolo saber que eu tenho alguém com quem compartilhar minha dor e esse consolo é como nenhum outro poderoso remédio que consegue estabelecer em mim uma tranquilidade, uma paz, uma calma interior.
Eu diria que não é um escritor que não desiste de escrever quando vê que sua palavra não pode mudar nem o pensamento do vizinho e nem reestabelecer a crença em corações pagãos ou desesperançados nem mesmo fazer com que uma jovem de hoje acredite na sua própria felicidade... o escritor em si não é um guerreiro nato, forte, batalhador e inabalável, ele é talvez, o mais fraco, sensível e oprimido que estiver entre nós, aquele no qual não daríamos nada e que não o reconheceríamos jamais como uma mente brilhante... são sim fracos seres que vendo o mundo desistem facilmente... quem não desiste porém é a própria palavra que os toma e nunca, nunca mesmo, desiste deles.
Eu não sou nada, mas eu tenho "na mão um lápis e nesse papel" uma palavra que nunca vai desistir de mim.