terça-feira, 13 de junho de 2006

Soneto IV

A lembrança passada de uma vida sempre presente
Como poderei apagar essa constante imagem da mente,
Como poderei não sentir essa impertinente dor?
Nem séculos bastarão para amenizar e tirar do meu interior...

Somar com as derrotas passadas este amargor
Criar forças, não se deixar resistir pelo dormente
Sofrimento que corrói, que causa horror
Sentimento que mata por dentro, mas que nasce semente...

Brota dele o que de mais soberano se tem
Que é tão grande e puro, mesmo com a dor se mantém...
E na dor se fortalece e na dor cresce e se contém.

Se frutifica na grandeza do seu pensar, que não é duro;
E é alegre, sentir o que é forte e maduro,
O que mais se quer do que sentir o que é puro!


segunda-feira, 12 de junho de 2006

Soneto III

Nos dias de mais agonias
Clamo pelas minhas mesquinharias
Vivo triste e tenho minha fraqueza
Aquilo que se foi não volta com certeza!

Choro como maiorias
Nas lágrimas me rodearias
Bateria nas águas com dureza
Como haveria de suspeitar tal avareza?

Sonhava com o que sonharias,
só não pensava como a Natureza,
que viverias sofrendo sem alegrias...

Mas quem me prometeu essa grandeza?
De imaginar que me reconhecerias
Das agonias da alma vem a tristeza!
quarta-feira, 31 de maio de 2006

Soneto II

Mesmo que a vida nos traga novas circunstâncias,
Quem esquecerá as antigas e velhas lembranças?
No tempo em que nada dele se apaga, nele ficam as esperanças,
Que nova vida surgirá para dela encontrar novas instâncias?

Que sentido se tem a vida se nela magoados estamos,
Se nela de um abraço precisamos,
Quem é que nela entenderá pessoas estranhas?
Almas tristes e as lágrimas de suas entranhas...?!

O que me consolaria se não fosse doces palavras...
Não daquelas que ficaram, mas as que nascem...
Nascem de outras vozes, sons de novas letras...

Porém, das novidades não se tem emoção;
E das vozes embora a compreensão
É difícil transferi-las sob a antiga voz do coração...
quinta-feira, 13 de abril de 2006

Choroso dia

Choroso dia! As lágrimas não suplantam essa agonia!
Dos meus pesares fortes esta angústia,
Dos sonhos em que não tive em claros prantos,
Da dor que me toma estou ferida aos tantos...

A tristeza que me consome alimenta rostos de alegria,
O fim porque não vem senão é chegado o dia!
A fim de meus prantos nunca cessarem,
Como não matá-los sem me matarem?

Qual é o braço amigo; quem tem um gesto de piedade?
De todos inimigos só nos resta o gosto da maldade!
Da carência que sinto, um pouco de caridade!

Por que nós mesmos nos cercamos de solidão?
Sem tirar tristeza e não lutar pelo coração...
Aos poucos morre, no dia, aquele que por nada sente razão,
Aos poucos morre, no dia, aquele que nasceu para ser Tristão!

Soneto I

Vivo do destino em que me dou
E consigo ser feliz no pouco que tenho
Lembranças que recordo e passou
tentar andar hoje com mais empenho

Sou eu naquilo em que me sustenho
O pensamento que da minha mente voou
junto o que busco com engenho
Onde aqui tudo desmoronou

Sigo na reta em que mantenho
Entre destroços onde padecer não vou...
Passos insanos contenho

A trégua em que a razão não colocou
não sei de onde venho
ou para onde eu vou...
 
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