segunda-feira, 26 de julho de 2010 0 comentários

Poema moderno

"Não te add. Não me addeste.

Seguimos sozinhos correntes desconectadas.

Indiferentes, ligamos a TV."



Cora coracora
domingo, 18 de julho de 2010 0 comentários

Se me pudesse deter

Sabe quando se corre forte - velocidade da luz - algo em que não se pode deter?

Sabe quando se sente o vento - e despenteia - como quem não se pode parar?

Sabe quando se pula denso - desafia a gravidade - de uma adrenalina que não se pode conter?

Sabe quando acelera mesmo - passa por cima - de um jeito que não se pode reter?

Então. É tudo tão intenso que paro.

Mas é tudo tão meu, que só eu sei.
quarta-feira, 14 de julho de 2010 0 comentários

Haverá o dia

Haverá o dia em que acordarás e eu não estarei mais presente.
Em que os filetes de sol passarão por entre as persianas e
será como os meus braços se estendendo ao teu encontro.

Mas a luz que preenche o quarto será como um brinde ao vazio,
será como um convite ao silêncio.
Então olharás ao redor e saberás que "se me fue".
sábado, 10 de julho de 2010 0 comentários

Se tu me deres a honra...

Eu gostaria de escrever para o tempo. Escrever para o vento. Escrever para o céu. Escrever para o mar.

Fossem todos poemas enrolados dentro de garrafas e chegassem à quantas e quantas pessoas desejassem.

Que as palavras fossem o suprimento necessário a cada um.

Fossem de um amor multiplicável, que, pensando em ti, se tu me deres a honra possa repartí-lo com quantas e quantas pessoas desejassem.
terça-feira, 6 de julho de 2010 0 comentários

Eu não estou para os meus retalhos



Muitos deles eu perdi enquanto voltava para casa. Outros que me desencontrei ao arrastá-los pela rua. No sofá deixei vários. A minha blusa rendeu-me muitos outros.

Eu sempre fui toda cheia deles. Caíam retalhos do meu cabelo, colava retalhos no rosto, suspendia retalhos no braço... Era um tudo tão preenchido que não me animava a mantê-los e nem a retirá-los.

Eram tantos! Quisera eu que não fossem retalhos ou que não fossem mais meus. Que a vida fosse inócua, quem sabe. Que o mundo não tivesse esse sentimento de abandono e que nós não fossemos obrigamos a colecionar retalhos...

Olhá-los a todo momento é que era o problema. O problema era olhá-los a todo momento. A todo momento, olhá-los, é que era o problema. O problema, a todo momento, era olhá-los.

Por que a moda que a vida lançou é colecionar retalhos? Por que cada um gruda, tece, costura, guarda os seus próprios retalhos? Se os meus retalhos fossem compartilhados eu os daria todos. Bom aproveito.

Mas não. Tem uns que me grudam até nos olhos. Uns que para respirar acabo sugando pelo nariz. Outros que, infelizmente, vão-me goela abaixo. É, retalhos também saem por baixo... Você literalmente faz retalhos... quando se satura deles.

Não há remédios para retalhos inexistirem. Tampouco andar pelado. Tomar cachaça. Não mesmo. Antes, tudo o que fazemos apenas acumula os nossos retalhos. A vida é um resultado tosco de um monte de retalhos. Ela até parece bonita, vista de longe, sabee, uma coisa artesanal. A vida, realmente, é um remendado só.

Confesso que cortei os retalhos das mãos porque estavam me incomodando, também não continuei com aqueles grandes nos pés porque eles tinham cara de que me fariam tropeçar a qualquer momento. Mas mantive os das canelas... porque sempre tem uns engraçadinhos que adoram chutar canelas alheias e chutar retalhos...

Ah, se eu mesma pudesse chutar todos os meus retalhos... Estive pensando então em fazer fuchicos com eles, customizar retalhos, pregá-los nas roupas como pequenos detalhes, para que não me sufoquem, para que não sejam grandes, para que não me sejam pesados, para que sejam apenas lembranças de outras roupas inteiras que já tive.

Mas hoje. Hoje eu não estou para retalhos.
segunda-feira, 5 de julho de 2010 0 comentários

Muito além de preencher o vazio

Quisera eu acreditar que "duas rosas nascidas no mesmo arrebol" nutriam-se da mesma seita bruta, do mesmo alimento orgânico e dividissem até o ar que respiram e voltassem ao mesmo tempo de um único gás carbônico capaz de, nessa vida entrelaçada, não sentir o frio da chuva, nem a terra molhada, muito menos sentisse o vento cortante do inverno... justamente dominadas pela mesma luz solar que possibilitasse suportar o mundo e preencher o vazio.

Mas minha vida nunca fora movida por disposições grandemente agregadas com o mundo imaginário, das minhas ideias coloridas de representar o espaço ao invés de vê-lo realmente, das histórias em que lia e se empregnavam dela. Nunca fora.
 
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