domingo, 13 de novembro de 2016

Estou que vou

Estou sempre indo ao outro
Tentando me buscar e compreender
E fica sempre uma sensação estranha
Um não-lugar profundo
Uma desconexão real e sem remédio
Cada interação é frustrada
Cada interação é abismo
Tentando buscar o outro e tocar
Tocar o que a matéria não deixa
Tocar o que o olho não vê
Sentir o que a mente não permite
Buscar ser vulnerável com o que nem sei
Sinto sempre uma desilusão latente
Que já se instala antes mesmo da ilusão chegar
Sinto sempre um coração dormente
Que bate uma saudade indefinida antes mesmo
de quebrar.

O sentimento do fim

Tenho em mim um sentimento indefinido
me parece cruel assim dizer
mas ele pode ser muito
pode significar muito o nada que é.
E é um nada conciso, um nada definido,
um capricho do acaso.
Uma mistura de fim de amor com
fim de dor com fim de importância
É um enterrar vivo, um descarte alheio,
um destrono, um enxotar do pedestal.
É um começo de luto. É um luto por um pensamento,
uma memória, uma ideia que não será mais pensada.
É um luto por algo meu que fica
onde eu já não estou. Nem estarei.
Nunca mais.
É um remorso por não ter vivido o suficiente
antes que esse sentimento já não fosse parte.
Não há voltas atrás quando esse sentimento vem.
Quando ele vem você já sabe. Acabou-se.
Não há o que fazer. Não há o que dizer.
Como já dizia Vanessa da Mata, e o que só
resta é um desejar de boa sorte.

Facas

Os meus pensamentos são sempre facas
que me cravam o peito
e buscam apoio e respeito
de consciências parcas.
Vejo-me navegando em águas rasas
de carícias brandas e corpo inteiro
desborde de emoções e lágrimas
canteiro de mente insana e asas.
Voar, tocar o que não se pode
Compartir e sarar
Feridas com o redemoinho feito
Vento contrário desfazendo o perfeito
Sobre as grandes incertezas
Certeza de águia e coragem
E dor e páginas.
domingo, 6 de novembro de 2016

Llenar

É horrível a sensação de não ter com que encher um coração vazio
E mais ainda a de saber que não se enche com nada.
Não, não se enche com nada.
Nada externo, nada fora, nada além de mim.

E se na ilusão de criar emoções na base do outro
Somos todos assim tolos no amor
Que venham encher em mim então essas emoções tolas
que me vão fazer acreditar que o externo
pode sim curar esse vazio.

Um frio inquebrantável traz cada desilusão
que dói, dói, dói um coração despedaçado
Parece que tudo é rotina, um grande círculo vicioso
volta, volta, volta para sempre o mesmo
Amores efêmeros, amores platônicos. Triângulos.
Amores não correspondidos, amores sem tempo, amores desperdiçados.
Ilusões amorosas de toda classe.

Como canta o amor quem não consegue encher-se a si mesmo no amor próprio?
Como canta o amor quem olha o vazio e desvia, deixa o vazio tomar conta?
Como canta o amor quem se depara somente com o não-amor, um sem amor, um nada?
Hoje o meu poema foi dor
Desculpe se, na beleza da vida, a poesia
deve ser uma de suas melhores formas.
 
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