segunda-feira, 28 de maio de 2018

O chamado da floresta


             Quando era muito mais jovem do que sou hoje (rs), talvez criança quiçá entrando na adolescência eu li um livro chamado "O chamado da floresta".
         Falava sobre cães-lobos e como em algum momento eles eram "chamados" pela floresta. Eu não me lembro da história. Mas, eu me lembro particularmente do nome e como esse nome me tocou, de tal forma, que até hoje eu me lembro.
           Pensando em propósitos de vida, o nome desse livro me surgiu na cabeça novamente. Quantos anos atrás que li esse livro? Talvez 15 anos atrás. Na época talvez eu nem tenha entendido o porquê do livro. Eu não tinha entendido a proporção metafórica do que era "o chamado da floresta". Mas me causou uma impressão curiosa, o significado do livro era tão mais profundo que eu mal fazia ideia.
        Hoje fiquei pensando no meu propósito. Quantos anos eu demorei para encontrar. Ou se é que realmente encontrei. Talvez 15 anos? Mais de oito certamente. Mas talvez a palavra não seja "demorei". São os anos que levei, que tinha que levar para encontrar. Quando o chamado não vem no tempo que você acha que deveria, mas no tempo que tem que vir. Quando você está talvez, emocionalmente pronta para aceitar e levar a carga, quando você aprende sanamente a compartir com luz.
             "O momento certo" é o tempo de cada um no seu percurso consciente.
           Esses dias estava chateada por ser sempre mediana no que escolhi fazer. No que escolhi estudar na vida. E simplesmente eu me pegava pensando "por que eu escolhi algo que claramente não está no meu propósito?".
         Dado um lugar onde habita o dono, de onde o cão foi tirado, ele não escolhe se deveria ficar ou ir. Ele simplesmente aceita, no tempo que for, o chamado da floresta e vai para cumprir sua missão. E a jornada é um reencontro com o seu eu primitivo, instintivo, original. Soa cursi, soa cool.
           Era um caminho que deveria ser percorrido, era um caminho que nele estavam as respostas.
            É como um texto. Eu definitivamente não me obrigo a escrever. Mas vem na cabeça de tal modo que escrevo mentalmente até o ponto de ir escrever em algum lugar.
             Talvez cada escrita seja um chamado da floresta.

segunda-feira, 14 de maio de 2018

100%

Talvez eu esteja começando a detestar o fato de ser insubordinada.
Não é raro as vezes que não faço o que mandam. Nem que mudo o que deveria ser feito. Ou que não faço se não tenho vontade. Parece um mimo bobo, um jeito de ser, mas não, descobri que tem raízes mais profundas do que isso.
"É mais forte do que eu", "eu até que gostaria". Às vezes repito frases comuns na minha cabeça para determinar "é assim que eles dizem, é assim que tem que ser feito/pensado." E me pego em uma gastura tremenda de pensar que simplesmente não estou nem aí, ao que deveria, ao que seria, ao que é certo.
Pareceria ainda 100% mas estranho se eu exemplificasse isso com acontecimentos. Acho melhor não.
Mas eu descobri também que não é uma frustração só minha (Eu tenho até amigos que são). Tentar se espremer para caber, se encaixar em algo para andar junto e por aí vai. São tantos padrões e tantas regras que definitivamente eu não sei como 'quase' todo mundo consegue.
Talvez muito talvez eu já tenha chegado em um extremismo radical. Já não quero mais caber. Já não quero encolher. Já não vou nem explicar para quem não vai entender. Talvez as decisões mais sábias (e lógicas) sejam aquelas 100% radicais.
Eu poderia ter aguentado o peso de pertencer a algo que não é meu, que não sou eu? Ninguém consegue. Todos os "poderiam" ou "deveriam" deveriam ser abolidos. E começando desde já, poderiam e deveriam já estão abolidos.
Não estou nem aí para etiquetas sociais, datas comemorativas, horários, notas acadêmicas, prazos de entrega, provas de todo tipo, trabalhos não criativos, não flexíveis. Tudo que, de alguma forma, foi imposto pelo outro. E eu não vejo por quê exatamente eu deveria cumprir/seguir.
Eu demorei para entender que trata-se também de rejeição e fuga.
O "eu nunca me enquadrei" no  que tivesse para ser enquadrado também é 100% real desde a minha infância.
E dá uma certa aflição ao pensar algo como "mas eu queria ser normal" "por que é que eu ajo assim?". 
É uma configuração da mente, eu suponho. Algo que talvez não me faça 100% entregue ao momento presente e que me dê sempre uma sensação de insatisfação com a realidade. E talvez fazer diferente para mudar seja pra mim fazer ao contrário do que o senso comum faria.
Eu não acredito que seja capricho da minha parte. Talvez eu não queira cumprir com mais nenhum papel porque o peso das imposições sociais já foram pra lá de muitas.
Sinto várias marteladas da vida na minha cabeça toda vez que sou insubordinada. Mas, estranhamente, e de modo super masoquista, eu sigo sendo. 100%.
 
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