quarta-feira, 12 de março de 2014 0 comentários

Copo de vidro

Quebrou-se.
O copo de vidro que estava sobre a mesa.
Esbarrara e paft, cacos e mais cacos pelo chão.
Imaginou ter um dejá vù.
Aquela sensação estranha de já ter vivido aquele momento.
Mas também, tão simples: quem nunca quebrou um copo na vida?
Uma fadiga vinha junto enquanto varria os cacos para fora.
O que era difícil manter aquele chão completamente limpo,
sem caco, sem pó, sem nada.
Eram tantos cacos mil que pensou ter quebrado centenas de copos.
Pensou ser mau sinal. Pensou em azar.
Mas naquela altura só o que lhe pesava sobre os ombros era o cansaço.
Sem ter muito o que fazer de novo, procurou o lixo.
Exercitou-se para lembrar onde estaria a pá e novamente
que tudo aquilo era muito desnecessário.
Veio o sono, veio a sede, veio a fome.
Mas nada daquilo era tão insaciável quanto seu tédio.
Parecia que varria a vida toda para lixo, e ainda sim,
estava de pé vendo os cacos pelo chão, vendo tudo ir embora.
Caíra, quebrara e era tudo.
Já lamentara, já chorara, já sucumbia, mas de quê adiantava?
Fora apenas um copo, fora um copo de vidro.
 
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