terça-feira, 9 de fevereiro de 2010 0 comentários

Você. Sou eu.

Você. Sou eu.


A verdade é simples, que bate nos nossos cabelos feito o vento e despenteia nossas ideias enquanto nos vemos paranóicos.

E é assim que eu me sinto.

Quando estou nos lugares. Quando olho para os lados. Freneticamente. Freneticamente. Você vai estar lá, você vai estar lá, por que você não está lá?

E é assim que eu me sinto.

Quando tento distinguir o rosto das pessoas com a distância me impedindo, quando reparo em todo mundo para ver se não o deixei passar batido. Eu o procuro em todos os lugares.

E é assim que eu me sinto.

Eu o procuro em todos os rostos. Chego a vê-lo, sim, chego a vê-lo. Não era este aqui, não era aquele ali. Não. Em vão.

E é assim que eu me sinto.

Como aquela que procura se agarrar na esperança por entre as portas do metrô.

E é assim que eu me sinto.

Sinto uma saudade gigante que já o vê em todos os rostos, que já o sente em todos os lugares. Que não está aonde procuro. Está em mim.

E é assim que eu me sinto.

Você. Sou eu.
sábado, 6 de fevereiro de 2010 0 comentários

O fantasma da censura




De contínuo habita na escuridão um ser insondável que traz em si o fantasma da nossa própria censura. Ele vem com correntes, preso à bolas de ferro e cercado de grades.

E lá vai ele às escuras tateando um lugar frio e sombrio. Perto dele há morcegos, poeira e teias de aranha. Na sua intensa peregrinação flagelada de apenas dois metros quadrados se resume a sua vasta liberdade prisional.

Não há o que querer naquele que traz o nosso querer mais intenso. E não tem no que pensar senão no nosso querer mais intenso.

Manchado de preto. Coberto de preto. Cintila os seu grandes olhos pretos. Cheios de uma dor latente e inexpressível. Como poderia gritar por entre quatro parede ocas o que já o sabem sem gritar?

Era ele o negasto, o cruel, o amargo. E por isso mesmo o amarrado. Não se deixaria ele partir por aí sem controle, ele não sabe, porém pode mais que todos os outros. Os outros.

Ele têm o poder da Phoenix, que controla tudo. Que manipula a razão de todos os outros para manifestar o seu querer. O querer mais intenso.

Porém, ele tropeça fraco entre ratazanas. Uma ratazana corre rápida quando sente uma gota gelada escorrer nas costas. E muitos outras continuam caindo como se chovesse. Mas não chove.

Ele ouve gritos horrendos e uivantes por entre as grades e desespera-se quando pisa em cacos de vidro. A bola de ferro presa ao pé o cansa. E nada o que lhe fizesse extenuaria a dor.

Tem junto a ele um fantasma que lhe fala ao pé do ouvido: "Nem tente. Nem tente." Esse fantasma o trancafiou. Mas ele é o guardião. Sabe que tem que proteger o querer mais intenso desse fantasma ensurdecedor. E ninguém sabe mas, a sua missão é essa. Não deixar morrer nas mãos da censura o nosso querer mais intenso.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010 0 comentários

Aponte-me pela rua...

Os escritores têm características particulares. "Aponte-me um escritor pela rua". Ora, simples. Muito fácil.


Por si só são exagerados. Eles adoram essa coisa chamada "ênfase". Adoram engolí-la e mastigá-la pouco a pouco as partes mais expessas, saborear demoradamente, achando um trabalho super árduo comer, comer e comer desesperadamente, incansavelmente em busca do clímax perfeito. (hmm. duplo sentido...) E tudo isso só para dizer que enfatizam BEM.

E como presente exemplo, ênfase na dor: "Então ela se foi. O que me dissera antes quando ainda estava aqui? Ela, tão ser único na minha vida, tão envolvente, tão sóbria, tão minha. Ela se foi sem motivo, eu não posso aceitar o seu motivo. Não posso. Que o cachorro fazia sujeira demais na porta da sala. Sem motivo. Não tenho mais vida, mais esperança. Ontem mesmo me afoguei em lágrimas, tropeçei em bebidas alcoólicas. Martirizei-me comendo rúculas. Dias imensos de insônia. Implorei, roguei aos céus. E não obtive respostas. Bebi até que olhos já não vissem o fundo do copo (e para isso também eu o enchia constantemente) e não houve uma gota em que coloquei na boca que não me lembrasse dela. Não, nada. Mas adormeci e esqueci. Pelo menos eu sei que ela não vai levar o meu cachorro."

Então quando alguém chega em você e diz: "a massa óssea do meu corpo não permitiu que eu me esquecesse um só segundo de te dizer obrigada do fundo do meu coração pela presença que você colocou para mim na aula da semana passada". Veja, é alguém com proeminência à literatura.

Qualquer pessoa que te assuste com assuntos esquisitos, uma diferença nos modos, na utilização de expressões incomuns ou que você nunca consiga realmente entender o que a pessoa estava querendo dizer com aquilo, acredite eles podem ser escritores. Tudo bem, podem ser apenas loucos. Eles chegam com os papos "hoje eu conversei com os meus hematomas. O Godofredo e o Silveriano". Fuja deles.

Eles preservam a excentricidade como atração de sua classe e geralmente acham que essa é a única forma de chamarem atenção ou serem diferentes. "Hoje eu masquei chiclete tomando café, adorei"; "Pulei de asa delta com patins, quando cheguei ao chão ainda consegui andar em plena avenida"; "Pintei o meu cabelo de duas cores, azul e verde, uma representando a Mata Atlântica e a outra a secura total do Planeta se não fizermos nada e ..."

Já na contradição são adeptos da inconstância. "Gosto de alface. Desde que não tenha agrotóxico. Estes estão com gosto esquisito. Agrotóxicos. Não gosto de alface, nunca gostei. Quem disse que eu gostava de alface?? Vocês colocaram isso na minha cabeça, essa repressão social..."

Uma grande parcela dos escritores está na parte dos incompreendidos, rejeitados e traumatizados pela sociedade. Aqueles que não obteem o que querem dela e se frustram pela preferência de privilegiados. Junte a isso uma introspecção, uma timidez ou totalmente o reverso disso, uma rebeldia e inflamação.

Nos dois casos (e eu acho que em todos os outros) os conflitos internos e externos promovem essa necessidade de inclusão em um caso ou de fuga no outro. Uma necessidade de se sentir "normal" em meio a um caos interior. Uma necessidade de liberdade e de poder de si mesmo que os leva a se apossar de suas próprias palavras. Coisas que nem todos fazem. Nem todos fazem.

Exemplificando, os escritores tímidos são aqueles que andam cabisbaixos pela rua. Ou que olham para lugar nenhum e parecem nas nuvens. São aqueles que não te olham nos olhos quando falam com você. E tentam te fazer acreditar que eles não existem, que são inúteis. Há uma necessidade de negação. "Não, não foi eu quem escreveu"; "Isso não merece elogios"; "Não precisa se preocupar comigo apesar de um gordo não ter me visto e me dado um soco de direita em cheio no meu nariz"; "Graziele? Quem é Graziele? " (eu já ouvi muito).

Outros teem um senso de humor peculiar que poucos entendem e menos ainda são os que se arriscam a rir das complexas piadas. Daí, esses se passam por bobões ambulantes. Porque ninguém entendeu o gênio que existe dentro deles.

Somos seres no mundo que não existem. Ninguém acredita que existimos. Há algo que não se completa entre nós e as palavras. Não, realmente não somos nós. São elas. Elas são puras, são únicas, não nos pertencem.

Todo escritor adora a doideira de falar sobre o que escreve, sobre a inspiração, sobre o que são as palavras e o que são eles com relação a elas, adoram, adoram a metalinguaguem. Um escritor que não crie seu universo e não fale sobre sua própria língua, não existe. É como vender cachorro quente e não saber fazer a salsicha. Na verdade nós começamos fazendo a salsicha, e só depois de um bom tempo de aprendizado e prática é que partimos para vender o cachorro quente. Feito na hora, é mais gostoso.

E por último, os escritores críticos têm tendência a prepotência, acham que os seus textos são sempre melhores que os dos outros mesmo lendo, dando crédito e admirando, porém eles pensam consigo: "Posso fazer melhor" (e quais não são assim?)...


 
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